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História e Heráldica

COLARES é uma Vila situada sobre duas colinas da Serra de Sintra e dista apenas a 7 km de Sintra.

Um dos extremos da Freguesia, na longitude Oeste de 9º 30’, é o ponto mais ocidental da Europa: “…onde a terra acaba e o mar começa…”.

Antes da fundação da Nacionalidade, há muito que existia vida humana em Colares. Do tempo dos Romanos, apareceram, no seu termo, diversas medalhas e inscrições latinas. Uma delas, encontrada perto da foz do Rio das Maçãs, dizia: “SOLI ET LUNAE CESTIVIUS ACIDIVIS PERENNIS LEG. AVG. PR. PR. PROVINCIAE LUSITANAE”.

Colares foi conquistada aos mouros por D. Afonso Henriques na sequência da vitória de Sintra, em 1147. Manteve-se na posse da coroa até 1385, data em que foi doada por D. João I ao Condestável, D. Nuno Álvares Pereira, em recompensa pela sua fidelidade durante a guerra contra Castela. Voltou à posse do Estado depois da morte da Infanta D. Beatriz, mãe de D. Manuel I.

A velha Vila de Colares, que teve importância nos períodos da Pré e da proto-história teve foral logo nos alvores da nossa Nacionalidade. A antiga freguesia de Nossa Senhora da Assunção, foi uma reitoria da apresentação da mitra, na antiga comarca de Torres Vedras.

Colares foi sede de Concelho, com foral atribuído por D. Afonso III, em Maio de 1255 e foral-novo de D. Manuel I, em 10 de Novembro de 1516. Na sequência de uma reforma administrativa, em 24 de Outubro de 1855, o Concelho, acabaria por ser extinto e integrado no de Sintra como freguesia.

In “Roteiro de Colares 2005”

Turismo

Marginando o lado direito da estrada que liga Colares à Praia das Maçãs e Azenhas do Mar, nos princípios do séc. XX, eram extensos areais com o plantio de vinha. Progressivamente, essas áreas foram sendo ocupadas por vivendas, quase sempre, como segunda residência para a passagem do verão, tornando-se a Freguesia um local de vilegiatura.

O parque hoteleiro e de restauração que, entretanto, se foi fixando, apresenta hoje uma razoável oferta.

Agricultura

Ambiente

A Serra de Sintra, atinge o seu ponto mais alto a 529 m de altitude, já assinalado no séc. XVI, nas cartas de D. João III (1522), por uma cruz. Tendo esta sido destruída por um raio, D. Fernando II, no séc. XIX, mandou colocar outra que se designa por Cruz Alta.

Esta floresta do Parque da Pena, estende-se até à Freguesia de Colares que a recebe em grande extensão. Ela detém variadíssimas espécies e tem merecida uma vigilância constante para a defender dos incêndios.

Os percursos pedonais, são os mais indicados para se percorrer a floresta para que, deste modo, o ambiente seja melhor preservado. Sob as seculares árvores por onde as heras se entrelaçam e onde o sol dificilmente as atravessam, existem locais preparados para merendar e repousar, dentro dos limites éticos ambientais.

Parques e jardins

A Freguesia de Colares é uma extensa mancha verdejante e florestal e, embora não possua parques ou jardins públicos dignos de nota, está todavia, na totalidade, inserida na área do Parque Natural de Sintra-Cascais.

“O maciço eruptivo de Sintra, a faixa litoral entre a cidadela de Cascais e a Foz do Falcão a Sul da Ericeira e o Planalto de S. João das Lampas são as unidades paisagísticas essenciais do Parque Natural de Sintra-Cascais.

A serra de Sintra, desde há muito cantada pela sua beleza, destaca-se como elemento aglutinador do conjunto, sendo de realçar o seu interesse geomorfológico e riqueza florística.

A faixa costeira, sucessão de arribas baixas, zonas dunares e areais escondidos, altas falésias calcárias, cachopos e farilhões é dominada pelo Cabo da Roca, proa ocidental da Europa. A área agrícola, zona de antiga humanização, é retalhada por muros de pedra seca ou sebes vivas de cana ou caniço, defesa contra os fortes ventos marítimos.

Em todo o Parque Natural estão presentes as obras dos homens. Umas, monumentais e sobejamente conhecidas, caso do Palácio da Pena, do Castelo dos Mouros ou do centro histórico de Sintra. Outras, mais simples e por vezes ignoradas, como a capela de São Mamede em Janas ou os inúmeros exemplos de arquitectura popular.”

In Brochura “Parque Natural de Sintra-Cascais”

Floresta

A Serra de Sintra consiste num imenso batolito granítico, cuja ejecção metamorfizou em vários lugares os estratos mezóicos da cobertura, predominando, na generalidade, as formações jurássicas e o grés de Nebra (1). O maciço apresenta 10 km de comprimento, por 6 km de largura máxima, ocupando uma área com cerca de 56 sequente caça irracional e, de igual modo, à cultura intensivados solos.

Na Serra encontravam-se coelhos, porcos monteses, corças e veados, os quais foram alvo, nos séculos XVI e XVll, de grandes caçadas organizadas pela corte (9).

Relativamente ao regime cinegético deste território foi, no reinado de D. Sebastião, produzido o Regimento da Coutada da Serra de Cyntra e D. Filipe II concedeu aos moradores da vila de Colares e termo, por alvará de 20 de Março de 1607, o privilégio de poderem caçar nos seus «pumares aos coelhos com cães pequenos e todas as armadilhas como lhes hera conçedido pello Regimento de minhas Coutadas (…) não sendo com bésta, nem espingarda, e com declaração que não poderão caçar de noite por nam aver ocasião de matarem algum veado dos que deçem da serra aos pumares» (10). Seis anos depois, outro diploma, de 11 de Outubro de 1613, alargou o âmbito territorial do mesmo a Sintra, mas apenas nos meses de Inverno (11).

Na centúria novecentista, desapareceram os lobos vitimados por batidas constantes, “justificadas” pelos danos que causavam aos rebanhos -, os corvos e as gralhas. Por conseguinte, ali subsistem apenas algumas raposas, ginetes, falcões peregrinos e águias. Por outro lado, para além de aves, insectos e répteis mais ou menos comuns, podem-se encontrar algumas espécies de roedores selvagens, como a lebre, o coelho bravo, o castor, a lontra, o texugo, a toupeira, o ouriço-cacheiro, o musaranho e o rato (12).

 Já no foral afonsino de 1154 se referiam os preceitos a ter com a actividade venatória no termo sintrão: «O caçador que apanhar cervo ou cerva, ou caça no género, com laço ou armadilha, entregue meio lombo; se for porco, uma costa; o batedor de coelhos entregue, uma vez por ano, três coelhos com suas peles. O colhedor de mel selvagem entregue, uma vez por ano, meio alqueire do que tiver colhido» (13). E, no séc. XVI, Damião de Góis ofereceu a seguinte descrição faunística: «A serra tem tal abundância de animais selvagens e de aves, e é de tal forma apropriada ao pastio de rebanhos, devido à especial boa qualidade do solo, que não é difícil a qualquer persuadir-se que as éguas concebiam sem intervenção externa» (14). Em 1758, todavia, não existiria já tão grande número de espécies selvagens, porquanto as Memórias Paroquiais -apesar de breves e omissas em muitos aspectos- referem apenas a existência de «rapozas, Coelhos e perdizes, mas em pouca Quantidade» (15), e, também, de lebres (16).

(1) Cfr. BOLEO, 1973, p. 22.

(2) Almunime Alhimiari (in BORGES COELHO, 1989, I, p. 63).

(3) Memórias Paroquiais, 1758 (in COSTA AZEVEDO, 1982, p. 176).

(4) PENA/GOMES/CABRAL, p. 9.

(5) Cfr. BOLÉO; 1973, p. 70; PENA/GOMES/CABRAL, p. 7.

(6) In BORGES COELHO, 1989, I, p. 63.

(7) Cfr. PINTO DA SILVA et alii, 1991, p. 14.

(8) Cfr. v.g. CAETANO, 1999.

(9) Cf. BOLÉO, 1973, p. 75.

(10) In CARUNA, 1996, 9, p. 12.

(11) Cfr. CARUNA, 1997, 11, p. 8.

(12) Cfr. BOLÉO, 1973, p. 75 e PENA/GOMES/CABRAL, pp. 73-76.

(13) In COSTA, 1976, p. 61.

(14) GÓIS, p. 35.

(15) In COSTA AZEVEDO, 1982, p. 179.

(16) Cfr. COSTA AZEVEDO, 1982, p. 165.

Vinicultura

Nas últimas décadas do século XIX, (…) Colares conhecera novo fôlego económico baseado, sobretudo, na produção do Vinho de Colares. Os indicadores disponíveis apontam para que o ramisco tenha sido introduzido, ou exaustivamente explorado, a partir dos finais do século XVIII, uma vez que até àquela data as fontes são omissas em relação a qualquer vinho específico, limitando-se a referir este produto entre os demais da região, onde se destaca, sobremaneira, a fruta. Foi a época dos capitalistas e proprietários, grandes comerciantes que detinham o monopólio do néctar, como os Gomes da Silva, possidentes de uma das mais antigas adegas (a Adega Viúva Gomes, fundada em 1808, em Almoçageme) – se não mesmo a mais antiga- que produziu e comercializou em grande escala o vinho ramisco, projectando internacionalmente aquele vinho, sobretudo para o Brasil (1).

Nos inícios do evo novecentista os principais viticultores da região eram Viúva Gomes & Filhos – distinguidos com o Grande Prémio na Exposição Mundial do Panamá-Pacífico, em 1915 (2), e que durante a Guerra de 1914-1918, enviaram vinho para consumo dos soldados que combatiam na frente francesa (3) -, Costa & Silva, Mazziotti, Teixeira Marques, Dr. Brandão de Vasconcelos, Luís Collares, José Parola, João Henrique Thomaz, Viúva Valério José Vicente, famílias Hipólito Filipe e Brás Rilhas, Maria José Dick Bandeira Nobre, Júlio Sena, José Simões Ferreira, Marcelino Simões, Agostinho Gomes e José Maria de Oliveira Júnior (4).

No seu estudo datado de 1908, contudo, Chaves Cruz relatou a crise que já então devastava o ramisco, vinho que havia recebido o reconhecimento internacional na Exposição Agrícola de Lisboa (1884) e na Exposição de Berlim (1888): «Bastantes viticultores não empregam jornaleiros: os trabalhos são feitos pela família; são estes ainda assim os que melhor se vão equilibrando, na terrível crise actual, mas para uns e outros se ella ainda se prolongar será infallivelmente a ruina.

Uma vinha na areia, hoje em dia é um encargo, pois sendo a despeza da cultura enorme, o preço actual do vinho não chega a cobrir os gastos feitos com ella. [Para acabar com as falsificações e melhorar a sua qualidade] Devia o vinho de Collares ter um typo definido e permanente, e isto só se conseguirá com a creação de uma sociedade cooperativa vinicola, de produção e venda [e os agricultores] não seriam obrigados por falta de dinheiro, á venda por preços baixissimos» (5). A Carta de Lei, de 18 de Setembro de 1908, determinou que os vinhos produzidos na freguesia colareja e nos terrenos areentos das freguesias de São Martinho e de São João das Lampas fossem tidos como vinho do tipo regional de Colares. O Decreto de 1 de Outubro de 1908, assentou que as designações firmadas pela tradição se considerassem vinhos de pasto de tipo regional. E, o Decreto de 25 de Maio de 1910, regulou a sua comercialização (6).

Ainda, em 1921, o visconde de Salreu erigiu, no Banzão, umas grandes caves projectadas pelo arquitecto Norte Júnior (7). O edifício de nítida inspiração vernacular alonga-se em dois blocos paralelos e contíguos que galgam a encosta, permanecendo a fachada, junto à entrada principal, ornada por duas pipas envoltas numa cercadura azulejar da Fábrica Constança, a azul e branco, na qual se patenteiam putti colhendo uvas. Mas a cooperativa -a Adega Regional de Colares- só viria a constituir-se em 1931 (substituindo o Sindicato Agrícola da região de Colares, de 1930), por iniciativa de vários lavradores, «num meio economicamente depauperado por longos anos de individualismo imprevidente (…) nem tinham preparação associativa nem tinham pé-de-meia que lhes permitisse começar a sua cooperativa pelo princípio» (8). Por conseguinte, o capital inicial era, somente, de 100 contos, por isso houve a necessidade de se acrescer um empréstimo de 750 contos para a aquisição das instalações primitivas e mais 500 contos para as ampliar (9).

E, de entre os 81 sócios fundadores, destaca-se a actuação do clínico municipal e produtor vinícola António Brandão de Vasconcelos (10), para que aquela se tomasse realidade. E, depois da morte do médico, em 1934, Alberto Tota foi o principal animador da cooperativa e representante de Colares no Conselho Superior de Viticultura (11).

A Adega Regional, todavia, foi incapaz de reverter o processo depredativo do Vinho de Colares que coincidiu com o crescimento da Praia das Maçãs.

Outros factores que conduziram ao apoucamento do vinho, foram, sem dúvida -para além dos já mencionados custos de produção, as sistemáticas adulterações causadas pela introdução de castas alheias ao ramisco e o domínio, muitas vezes pouco escrupuloso, de alguns comerciantes sobre os viticultores-, a grande depressão de 1929 que inibiu os mercados estrangeiros, em particular, o brasileiro; a expansão urbana e a pressão imobiliária que causaram o abandono e a destruição dos numerosos vinhedos de ramisco, os quais tinham sido, aliás, poupadas ao surto de filoxera observado na região de Lisboa a partir de 1865 (12).

(1) Sobre este assunto, vide, v.g. SANTOS, 1992.

(2) Cfr. Ilustração Portugueza, n.º 508, 15 de Novembro de 1915, p. 640.

(3) Cfr. Ilustração Portugueza, n.º556, 16 de Outubro de 1916, p. 306.

(4) Cfr. CHAVES CRUZ, 1908, p. 11.

(5) CHAVES CRUZ, 1908, pp. 72-74.

(6) CUNHA, pp. 65-67.

(7) Cfr. O Regional, 14 de Setembro de 1924. Note-se, ainda, que foi construído pelos empreiteiros Santos & Santos, «constructores e edificadores» de Sintra, com sucursal na Praia das Maçãs (cfr. loc. et op. cit.).

(8) Cfr. Jornal de Sintra, 2 de Outubro de 1938.

(9) Cfr. Jornal de Sintra, 2 de Outubro de 1938.

(10) Brandão de Vasconcelos revelava grandes preocupações sociais e, para além das medidas que juntamente tomou com Carlos França no âmbito da higiene e assistência social (cfr. CAETANO, 1999A), reivindicou o parcelamento e a arborização da Serra de Sintra e a criação de um sindicato agrícola (cfr. Jornal de Sintra, 4 de Julho de 1937). Em termos políticos, refira-se, que foi um dos signatários da acta da Câmara Municipal de Sintra de aceitação do regime republicano e foi senador da República nas Constituintes.

(11) Cfr. Jornal de Sintra, 20 de Novembro de 1938.

(12) Cfr. ESTEVES DOS SANTOS, 1938, pp. 14 e 53-54.

Heráldica

Brasão de Colares

Segundo a “Colecção dos Brasões d’Armas das Cidades e Villas da Monarchia Portugueza” – 1860

Brasão de Armas de Colares

– Por ter sido sede em Vila, o brasão é encimado por uma Coroa Mural de Prata de quatro Torres;

– No interior do escudo, três Colares de ouro que, segundo a lenda, representam o penhor pelas terras adquiridas ao Rei Mouro Zeilão, pela Condessa de Compa, de origem alemã;

– Ao centro, uma Torre de ouro, lavrado de negro, indica ter havido um castelo, posteriormente transformado em palácio, hoje em ruínas;

– Ladeando a Torre, quatro Árvores assentes sobre campo verde, representam a fertilidade da região;

– Sob o escudo, um Listel branco com a legenda “Vila de Colares”.